Do you love me?

Não tenho dúvidas que quem canta não só os males espanta, mas, certamente, fala diretamente com Deus. O filósofo prussiano, Friedrich Nietzsche, certa vez tatuou que “sem música a vida não faria sentido”, ouso assinar no rodapé.

Uma boa música é como um bom livro que faz você voar para novos mundos, novas paisagens, novos horizontes, para novos e velhos cheiros e aromas nos fazem rir ou chorar, pois ao passado as boas lembranças, saudades e outros sentidos são tão nítidos que os sentimentos brotam em tamanha profusão como se vulcão fosse. 

Claro, que não sou sinestésico nem poderia, pois meu vazio cérebro é tão oco quanto um sino sem badalo. Mas quando ouço algumas músicas me transporto simplesmente, e é certo que não fico no presente, às vezes me dano para o futuro o qual imagino um mundo com mais tolerância, mais justiça social mais amor, noutras horas volto ao passado nos tempos de galos e quintais, onde a inocência não padecia da malícia da vida que viria.

Há pouco estava ouvindo “Do you love me?” – Sharif Dean & Eveline D’Haese, música que também foi um sucesso danado com uma versão do Trio Esperança “Me ama?” lá por volta dos anos 70, de repente fui catapultado, me senti plenamente na confluência da Rua Augusto da Escóssia com a Afonso Pena aonde passei a perambular em meio a um aglomerado de pessoas andando de um lado para outro, outras em grupos reunidas conversando e rindo, ainda outros jovens fazendo medo para um casal na fila da Roda Gigante, vi um vendedor de picolé – não era meu pai – fazendo seu marketing gritava feito louco “quem comprar dois leva três” e “menina bonita não paga, mas também não leva”.

Nos quatro alto-falantes, um em cada direção dos pontos cardeais, no alto de um poste fincado bem no meio do parque uma voz parecendo sair de uma caverna anunciava “Essa música vai para o brotinho de saia azul, blusa branca de lenço rosa no cabelo, oferecida pelo rapaz de camisa cacharréu azul clara, calça branca e tamancos que está fumando cigarro Hollyood ao lado do Carrossel”: Do you love me? I love you, more than words can say… …“Menino seu café gelou”, era Maria me trazendo à terra. 

Brito e Silva – Cartunista

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