Cláudio Oliveira: O filhote do Pasquim
Cláudio Oliveira é Jornalista pela UFRN com especialização em artes gráficas na Universidade Carlos, República Tcheca e também cartunista por vocação. Nascido na capital potiguar, Natal, em 20 de junho de 1963, logo na infância foi influenciado pelo traço do gaúcho Renato Canini, que o fez transformar os cadernos escolares em seus próprios gibis.
Aos 12 anos Cláudio foi levado pelo jornalista Jorge Batista para o jornal Diário onde manteve seu contato com Emanoel Amaral e Edmar – ambos cartunistas – convidado por eles passou a integrar o GRUPEHG – Grupo de Pesquisas e Estudos de Histórias em Quadrinhos, pouco tempo depois conheceu Henfil que ao ver a qualidade do trabalho o levou para o Pasquim, no qual publicou por vários anos.
Cláudio Oliveira assina a coluna CLÁUDIO HEBDÔ, que traz o slogan “Um jornal de humor ao contrário: só não sai uma vez por semana”, veiculada na Folha de São Paulo com charges e textos bem-humorados de fina ironia, que é o seu cartão portal.
Por Brito e Silva – Carunista
Sabemos que é na infância onde tomamos os primeiros contatos com pincéis, tintas, lápis e papel, com você assim?
Sim. Antes de me alfabetizar, comecei a “ler” HQ. Meu irmão mais velho adorava os gibis do Zé Carioca e lia as histórias para mim. Depois, eu ficava curtindo os desenhos. Gostava principalmente de um traço que muito depois eu viria a saber que era de um gaúcho chamado Renato Canini. Passei a transformar meus cadernos da escola em gibis com meus desenhos.
Em frente da loja de sapatos do meu pai no bairro do Alecrim, do outro lado da rua havia um camelô que vendia revistinhas. Economizava o dinheiro do lanche da escola e comprava gibis. Passei a ler tudo que encontrava nas bancas do bairro.
Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra” da família?
Sou “ovelha negra” da família.
Quando tomou consciência que o desenho, mas especificamente, cartum a seria sua profissão?
Quando eu tinha 12 anos, em 1975, um jornalista chamado Jorge Batista me viu desenhar enquanto comprava sapatos na loja do meu pai e me convidou para levar meus desenhos para o Diário de Natal. Então, tive contato com Emanoel Amaral e Edmar. Eles me convidaram para participar do Grupehq. Em junho de 1976, levei meus desenhos para a Tribuna do Norte e passei a publicar charges diariamente. Em dezembro, Henfil foi morar em Natal. Fui apresentado a ele, que me convidou a colaborar com o Pasquim. Sob influência do pessoal do Grupehq e de Henfil, decidi-me pela profissão de cartunista. Desde então, não parei de desenhar e fazer charges. De 1982 a 1985 fiz o curso de Comunicação Social na UFRN e de 1989 a 1989 fiz uma especialização em Artes Gráficas na Escola Superior de Artes Aplicadas de Praga, na República Tcheca.
A família apoiou?
Sim, sempre.
Quantos de anos estrada, amassando e rabiscando papeis em busca suplantar o desafio do papel em branco?
Desde 1976. Quando voltei ao Brasil, em agosto de 1992, trabalhei no Diário de Natal e depois me transferi para São Paulo, em fevereiro de 1993, quando passei a publicar nos jornais do Grupo Folha.
Como avalia a qualidade do cartum brasileiro?
Muito bom. Começamos bem, com grandes desenhistas no século XIX, como Angelo Agostini. No século XX, desenhistas geniais como J. Carlos, Belmonte, Nássara, Théo. E a turma do Pasquim, Millôr, Ziraldo, Henfil, Jaguar. Os irmãos Caruso, Angeli, Laerte, Glauco, Luís Gê. No Brasil inteiro temos grandes talentos. E uma moçada de grande qualidade que tem surgido e mostrado seus trabalhos nos antigos e novos meios.
Você acredita que o cartunista brasileiro é bem remunerado?
Acho que não. E infelizmente a crise principalmente dos veículos impressos tem restringido os espaços.
No mundo dos traços quais foram suas influências e seu ídolo – sem é que tem um?
Sou um filhote do Pasquim e da caricatura e dos quadrinhos brasileiros. E também de tudo que caía na minha mão. Eu absorvia e continuo a absorver tudo aquilo de que gosto.
Qual a charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter desenhado?
Na verdade, há muitas charges que eu gostaria de não ter desenhado, como recentemente na pandemia do coronavírus.
A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e consequentemente com os espaços para os profissionais do cartum, você acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?
Conheço pouco o mercado de cartuns nos meios digitais. Seria necessário estudar o tema. O setor de música parece que conseguiu encontrar um modelo de negócio com o stream.
O que é ser um cartunista?
Tentar ser um porta-voz dos cidadãos na defesa dos valores democráticos e republicanos e na cobrança dos poderes públicos para o estabelecimento de políticas do interesse da maioria da sociedade.