Barrados no São João
Sempre fui muito ligado com as coisas do sertão, talvez, por alimentar um conselho simples que meu velho pai – in memoriam – seu Luiz, sempre que tinha oportunidade não a perdia e olhando nos meus olhos dizia “nunca esqueça de onde você veio”, não sei se queria dizer “nunca me esqueça” ou se “não esqueça sua terra” misturei tudo, fiz um angu e não o esqueço as coisas do meu torrão e muito menos deles, apesar de sua partida pré-matura – digo eu –. Todos ou quase todos os dias estou com ele ou ele está comigo, o certo é quando a saudade bate me chamando à porta com intuito de minar meus olhos os dedos no teclado do computador acionando o play e “Vai boiadeiro que a noite já vem…” invade a alma e sua presença me preenche mandando a saudade embora.
Nesse período junino, não a menor dúvida que estaria – talvez esteja – em sua cadeira de balanço sob a sombra de uma frondosa mangueira, plantada por ele, com a caixa de som conectada a uma extensão que saía de uma tomada da sala de casa que atravessava a rua para alimentar a alma e o seu coração impulsionando a música do Rei do Baião, Luiz Gonzaga a todo volume. Certamente, aquele pé de mangueira, ali em Parnamirim também sente falta do seu som.
Vendo os festejos de São João na Estação das Artes, lembrei de um tempo aonde o povo se apinhava na estação transitando pra lá e pra cá, não para forrobodear, mas para viajar de uma cidade para outra, na verdade, até de um estado para outro, pois a ferrovia ligava Mossoró à Souza, na Paraíba. Pois muito bem. Peguei o trem de volta ao passado, atiçado como se uma caldeira de Maria Fumaça fosse, fazendo parada lá no bairro Paredões em meados dos anos 70, onde com alguns amigos havíamos planejado uma viagem junina para interior, mas precisamente à cidade de Mineiro, hoje Frutuoso Gomes.
Minha mãe, dona Geralda, fez uma bermuda e uma calça, do mesmo tecido, com estampas típicas quadriculadas e uma camisa nos mesmos moldes e estilo. Malas prontos, lá se fomos nós, uma reca de adolescente para estação, talvez para a maior aventura de nossas vidas sem a presença de adultos para nos pôr na “linha”. Íamos para casa de parentes de um amigo que morava na nossa rua – o qual, por razões do tempo e decerto do trauma, não lembro seu nome nem dos outros colegas – a viagem já foi uma aventura, a agitação nas estações das cidades em que o trem passava, gente subia, gente descia, vendiam milho assado, cozido, canjica, bolo pé-moleque, da moça, sanfoneiros tocavam “Santo de Barro” música de Iramar Leite, sucesso na época gravado pelo Trio Mossoró.
Se não me falha a memória – o que é quase impossível não fazer – em Caraúbas entrou um cego com óculos escuro de camisa Volta ao Mundo, verde de doer, proferiu uns versos de cordel, aplaudido saiu, com a mão estirada, colhendo moedas dos passageiros, desceu ao terceiro apito, o trem já em movimento olhei pela janela, estava o “cego” contando os Cruzeiros colhidos.
Em Mineiro, já “imperiquitados”, à noite descemos para o centro da cidade na companhia de Maria, que morava de parede e meia da casa que nos hospedava, e suas amigas. Eu confesso, me apaixonei pelos olhos castanhos cor de mel, cabelos lisos que adornavam parte das ancas e das pernas bem torneadas, de seu corpo que parecia um genuíno Geannini, isto é, todos nós estávamos “arriados os quatros pneus” por Maria. A caminho já imaginava dançando xote fugando naquele pescoço.
Na praça, todos “anchos” nos fazendo de importantes, quando fomos cercados por outros jovens, que simplesmente nos indicaram o caminho da estação, se não quiséssemos apanhar, como não sou afeito a surras, convenci os outros. Partimos para estação, esperando o amanhecer trazer o trem, passamos a noite ouvindo o forrobodó troar.
Na prancheta
Sobre a prancheta dois cordéis que estamos ilustrando. “Meu Último Poema” escrito pelo amigo Antônio Nilson aonde faz nos primeiros versos um convite à reflexão antes da partida final. “Os Crentes de Antigamente”, lavra do poeta Galego Jucuri. Ambos poetas de primeira linha, lá da boa terra de Santa Luzia.
Pelé
Já em solo do “liberté, égalité, fraternité o cartunista potiguar Joe Bonfim para os preparativos da exposição somente com cartunistas brasileiros tendo como tema o Rei do Futebol, o nosso Pelé. Exposição que será inserida no Festival de Humor de St Just Le Martel, na França, em setembro de 2023.
Estrela
Juro que não queria – mentira: estava com os dedos coçando – em falar no meu “Fogão” liderando o campeonato brasileiro de 2023 e sendo tratado pelos “globais” como candidato a campeão. Sei que alguns insatisfeitos, agora, depois do VAR, não têm mais aquela “ajudinha” dos juízes, dirão que isto é “fogo de palha”. Outro dia um “invejoso” taxou o Botafogo de estrela cadente.
Ah! Um abraço aos amigos Edilson Pinto e Josias Arruda, torcedores daquele time, apesar de dizerem que “praga de urubu” não pega, ainda assim, não ouso dizer o nome.
Caricatura
Caricatura do cartunista sírio Abdulhadi Shammah, para o The 1st.International Caricature Competition/Egypt,2023.
Frase
“Estão fazendo um aborto comigo, me tirando do útero” – Bolsonaro