NÃO ACEITO

Vinha da farmácia com minhas compras mensais, acompanhado do meu neto, João Miguel, de 2 anos. Ele insistiu em ir comigo para que eu comprasse um doce chamado FINI, apesar de eu ter dito que lá não vendia. Mas, muito mais sábio que eu, propôs que eu o levasse para comprovar. Tinha!
Pois bem, já na calçada, ao nos aproximarmos da lanchonete na praça de Nossa Senhora de Candelária, João avistou uma pessoa deitada no chão, coberta dos pés à cabeça, e perguntou:
— O que é isso, vovô?
— É um morador de rua, ele não tem onde morar.
— Que estranho… — completou João.
Sou o que dizem hoje ser uma pessoa emotiva, um “bebê chorão”. Meus olhos minaram, como cacimba em leito de rio seco. Ora, João achou estranho algo que, para nós, adultos – que temos consciência de nossas responsabilidades sociais, que aprendemos que lutar por um mundo mais justo e menos desigual deveria ser nosso dever – já não parece mais surpreendente. Como se fosse natural um ser humano dormir ao relento, sem um teto sobre a cabeça.
Quando me dei conta, estava inundado por uma estranha sensação de fracasso, de impotência. Sentia-me pequeno diante da realidade ácida e cruel. Sei que as elites e a direita nunca enxergaram esses invisíveis — ou não quiseram enxergar. A esquerda tenta, ao menos na retórica. Mas a legião de miseráveis segue enchendo as cidades, enquanto poucas boas almas tentam cuidar e paziguar essas pobres criaturas abanadas pelos deuses do Olimpo.
Brito e Silva – Cartunista
“Calma. É só aos poucos que o escuro fica claro”, cunhou o mineiro diplomata e poeta Guimarães Rosa. Não podia ser mais preciso. Entretanto, muitas almas – até bem-intencionadas – caminham apressadas sob o sol do Saara ao meio-dia, empunhando fachos de luz, sem perceber que, assim, luz e escuridão já não se distinguem.
Talvez eu – e certamente sou – um perfeito membro desse bloco de miseráveis que seguem cegos, portando lampiões, sem notar sua infame e arrogante ignorância. E quando por um milagre, concedido por algum deus zombeteiro do Olimpo, têm um lampejo, um rasgo de ciência, seguram uma vela acesa ao amanhecer, mas ainda assim duvidam da alvorada no horizonte – e, acreditando no lusco-fusco, acendem outra vela na mão direita.
Não sei – e talvez nunca saiba – se isso é pura arrogância ou uma humildade falseadamente disfarçada. Sempre que tenho oportunidade, quando estou errado, me rendo; me coloco diante da verdade, da informação correta, disposto a aprender para que no futuro não erre mais. Não como uma promessa juramentada, mas como um objetivo: não recair no mesmo pecado, não ajoelhar meus joelhos sobre os mesmos milhos.
Diz o velho ditado, lá no pé da serra do principado de Baixa do Chico: “Errar é humano, mas permanecer no erro é burrice”. Não seria assim tão insultuoso se a carapuça não me coubesse tão bem no quengo. Sim, isso mesmo: faço parte do bloco dos desesperançados, dos apequenados, daqueles que perambulam na escuridão do dia envoltos na névoa do prazer mediático. Um par de médicos desalmados me proibiu de comer meu pão-doce de cada dia. É verdade: digo, não estou curado, porém, há quinze dias me mantenho “limpo”. Entretanto, todos os dias, acendo uma vela a Deus e outra ao diabo.
Calma? Ora, Guimarães, quem sabe de mim sou eu!
Obs: O pecado não é estar com a “alma turva”, porém, não a querer límpida.
Brito e Silva – Cartunista
Nossa homenagem ao grande jornalista e fanático torcedor do Botafogo, Léo Batista, que morreu aos 92 anos, neste domingo, 19 de janeiro. Certamente, o nosso Fogão, ao logo de sua carreira, lhe proporcionou muitas alegrias como as do ano de 2024. Viva Léo Batista, viva o Botafogo!!!
@renatopeters @botafogo #caricatura #cartum #charge #futebol #globoesporte @planetabotafogo @fogaonet @leobatista.neto
A caricatura da atriz Fernanda Torres será destaque em uma exposição especial em São Paulo, organizada pelo jornalista e cartunista Jal José Alberto Lovetro. A homenagem celebra a histórica conquista de Fernanda, que recebeu o Globo de Ouro 2025 como Melhor Atriz de Drama por sua atuação no aclamado filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. Com essa vitória, Fernanda Torres entra para a história como a primeira brasileira a conquistar essa prestigiada estatueta, reafirmando sua relevância no cenário artístico internacional
Luís da Câmara Cascudo (Natal, 30 de dezembro de 1898 – 30 de julho de 1986)
Foi historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor,
advogado, jornalista e escritor brasileiro. Foi professor da Faculdade de Direito de Natal. Deixou obra volumosa e de grande relevância, em particular sobre história, folclore e cultura popular.
Fonte: Eikipédia
Tarcisio de Freitas
No sábado, 4 de janeiro de 2025, ainda ecoavam em meus ouvidos as promessas de amigos. Uns juravam de pés juntos que iriam para a academia conquistar a tão sonhada barriga “tanquinho”. Outros contavam sobre as sete ondas que pularam e as oferendas que fizeram para Iemanjá, pedindo bênçãos para passar em concursos públicos. Todos repetindo os mesmos rituais, esperando resultados diferentes. Mas essa é outra história.
Caminhava em direção à Praça de Nossa Senhora da Candelária, sem intenção de rezar, porque não sei, apenas mostro meu olhar, meu olhar. Na verdade, ia cortar os poucos fios de cabelo que ainda ornamentam meu cucuruto. Foi então que, a uns 200 metros, avistei um senhor que vinha descendo a ladeira. Ele era tão perfumado que seu aroma inundava o ar. Quando passou por mim, percebi que tinha o cabelo bem cortado e molhado, denunciando que havia acabado de tomar um banho.
Nesse instante, lembrei-me de uma entrevista do Amaral, aquele jogador da seleção brasileira. Ele contou que, ao se mudar para São Paulo, foi morar com outro jogador. Logo, o mau cheiro de sua sovaqueira começou a incomodar o amigo. Amaral percebeu que o colega sempre saía cheiroso e ficou de olho. Certo dia, viu o amigo aplicando um desodorante aerossol nas axilas. Imaginou que esse era o segredo. Após um banho, encontrou no banheiro um spray que exalava um aroma agradável. Sem pensar muito, deu umas borrifadas nos suvacos e foi para um churrasco. Lá, todos sentiram o “perfume” e começaram a rir. O amigo perguntou o que ele tinha usado, e Amaral revelou. Foi aí que soube: havia usado um spray de banheiro, daqueles para eliminar mau odor de ambientes.
Voltei ao presente com uma certeza: o perfume daquele senhor que cruzara comigo era exatamente a mesma fragrância que Maria usa no banheiro lá em casa, com cheirinho da IPÊ.
Brito e Silva – Cartunista
João de Nego poderia muito bem ser chamado de um “Zé Ninguém”, como tantos outros “Zés” que não têm peso algum nas oscilações do Ibovespa. Esquecido pelo poder público, por Deus e pelo diabo, João se tornou presa fácil dos mercadores da fé. Ele é auxiliar de pedreiro na Construtora MEI, do seu orgulhoso cunhado, que, incentivado pelos órgãos governamentais, se tornou parte da legião de Microempreendedores Individuais.
– Apolônio…
– Apolônio não! Você sabe que mudei meu nome. A cartomante e o “cutchi” disseram que, pra ter sucesso, é preciso mudar. Como nunca gostei do meu nome, comecei por ele.
– E devo te chamar de Biu ou Jobis?
– Pelo nome completo: Biu Jobis.
– Tá certo… Biu Jobis, na quarta-feira vou faltar. Depois de três meses, minha mulher conseguiu uma ficha pra eu mostrar os exames ao “dôtor” lá no “postim”.
– Ah, não! De novo, não! Há seis meses você chegou atrasado, e agora quer faltar o dia inteiro?
– Ué, mas se eu ficar doente, não é pior?
– Pior pra quem?
– Ora, pior porque não vou poder trabalhar pra você!
– Pra mim não, eu boto outro no seu lugar.
– Ixi, Apoli… Quer dizer, Biu Jobis, você mudou muito.
– Claro, agora sou empreendedor, sou empresário.
No fim, o empresário liberou João. Naquela quarta-feira, João acordou às quatro da manhã e foi ao Posto de Saúde. Ao chegar, encontrou uma fila enorme e acomodou-se num canto. Por volta das dez, pediu à senhora falante à sua frente, que todo mundo sabia ser diabética (pois ela contava isso em alto e bom som para um idoso surdo à sua frente):
– A senhora guarda meu lugar? Vou ali comer alguma coisa. Hoje não coloquei nada no bucho.
– Só se você trouxer um pastel e um suco de maracujá pra mim.
– Tá certo.
Contando os trocados, percebeu que só tinha o suficiente para dois pastéis, um suco e a passagem de ônibus de volta. Comeu um pastel, bebeu um gole de água e levou o outro pastel e o suco para a senhora.
Às duas da tarde, João voltava para casa num ônibus abafado, com a temperatura beirando os 40 graus. Além do motorista, havia mais três passageiros. Na parada seguinte, dois jovens entraram anunciando um assalto:
– Perdeu, perdeu! Passa tudo!
Quando chegaram a João, perceberam que ele estava chorando e começaram a rir:
– Ô véi frouxo, já tá chorando e nem apontei o “berro” pra ele. Outro riu ainda mais:
– Tá chorando com medo de morrer?
– Não, meus jovens. Não tenho medo de morrer. Estou chorando com pena de vocês.
– Pena de “nóis”? Tá louco, é?
– Acabei de sair do médico. Ele disse que só tenho três meses de vida. Se um de vocês atirar em mim, só vai encurtar o pouco que me resta da jornada, e vocês vão continuar nessa miséria em que estão vivendo.
Os jovens, sem dar ouvidos, insensíveis a tudo e, principalmente, com perspectivas de vida tão estreitas quanto os corredores do ônibus, roubaram celulares e pertences dos outros passageiros. Antes de ir embora, ainda debocharam:
– A gente podia acabar com o seu sofrimento, mas vamos deixar você morrer devagar. Bora, bora vazar! Gritou um deles.
Sob o lusco-fusco, João finalmente chegou à esquina de sua rua, depois de passar mais de duas horas na delegacia registrando o assalto. Sua mulher, em prantos, correu para abraçá-lo. Nesse instante, João teve certeza de que morreria em breve. Lágrimas minaram dos seus olhos, molhando aquela maltratada pele negra queimada de sol, como se fossem uma espécie de despedida. Pensamentos inundaram sua doce alma, recortes da vida que levara, imagens entrelaçadas dos filhos e netos giram em sua mente. Como tudo tem começo, meio e fim, certamente esse seria o seu final.
– Foi um erro, João! Foi um erro… Joana soluçou.
– O laboratório errou. Esses exames não são seus…
Abraçados, os dois desceram a viela sob as luzes de Natal dos barracos entre um rasgo de luz e muita escuridão criava-se um cenário fantasmagórico alheio para eles. Enquanto o prefeito, aos berros no rádio, discursava sobre as cestas natalinas distribuídas às pessoas de baixa renda. No barraco, os dois sentaram à mesa – improvisada com meia lâmina de MDF – para jantar: pão com mortadela e uma Coca-Cola de dois litros, esperando o espírito natalino bater à porta. Juntos, contavam as moedas para completar o dízimo, para o pastor fazer a “festinha” de Natal.
Exposição
Prego batido e ponta virada! Em sintonia fina com o jornalista Ailton Medeiros, diretor da Biblioteca Câmara Cascudo, detalhes superados, estaremos eu, Brum e Joe Bonfim expondo nossos trabalhos de caricaturas, charges e cartuns durante 60 dias, abertura no dia 8 de fevereiro a 12 de abril de 2025.
Durante o período haverão oficinas e palestras para estudantes, faltando apenas ajustar a programação.
Caso Isolado
Caso Isolado, lavra do policial civil Pedro Chê e da policial da PRF Páris Borges, é um podcast que une segurança pública, crítica social, ironia e humor para abordar temas relevantes e atuais. Longe de ser um programa policial, oferece uma visão ácida e reflexiva sobre a sociedade. Com uma narrativa envolvente, explora questões de justiça, violência e cidadania sob uma ótica provocativa. Ideal para quem busca informação com leveza e sarcasmo, é um espaço de debates ousados e bem-humorados. Seu estilo único cativa ouvintes que apreciam análises críticas e inteligentes.
Frase
“Sem anistia!!!” Frase uníssona de norte a sul de leste a oeste.
Caricatura
A caricatura de Vinícius Júnior é uma homenagem singela a esse grande cidadão brasileiro, que se tornou um orgulho mundial. Ele transcende o futebol, representando a luta por um planeta mais justo e livre do racismo. Viva Vini Jr., um símbolo de excelência e resistência, o melhor do mundo!
Brito e Sila – Cartunista
Nossa coluna na Papangu
Ontem, depois de exercitar meu polegar no controle remoto, passeando pela Netflix de “A a Z”, quase nada chamou minha atenção. A exceção foi a série “Cem Anos de Solidão”, baseada no clássico homônimo do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982. Confesso: nunca li o livro! Ainda assim, estou saboreando a série como quem tem diante de si um pão doce com filetes de coco queimado. Cada pequeno pedaço é degustado vagarosamente, prolongando ao máximo o prazer e excitando as papilas gustativas. Assisto um ou dois capítulos e só volto dois ou três dias depois, para não acabar tão rápido.
Navego pelos incontáveis canais da Alaris, passo pela Netflix, mas invariavelmente termino no mesmo lugar: no YouTube. Não me perguntem por quê. A verdade é que, com minha memória propositalmente seletiva e autônoma, permito-me assistir um filme várias vezes como se fosse sempre a primeira vez. É um privilégio deliberado, confesso.
Ah! Tudo isso só aconteceu depois de ouvir o eterno “rei do iê-iê-iê”, Roberto Carlos, sussurrar “Detalhes” – porque, hoje em dia, ele já não canta, apenas murmura. Logo após, o comercial anunciava os próximos atos, que certamente, o espetáculo de penúria se intensificaria, corri para o YouTube. Foi lá que dei de cara com Claudia Cardinale, Charles Bronson, Henry Fonda e Jason Robards. Posicionei o travesseiro, apontei o dedo no “gatilho” e disparei: “Era Uma Vez no Oeste”.
É meu amigo Cefas Carvalho, às vezes, um bom “espaguete” é mesmo quem nos salva.
Brito e Silva – cartunista