Minha singela homenagem para um dos ícones das baquetas das noites mossoroenses que, nos Bárbaros, em minha juventude marcou o compasso de nossas festas e, que nesta quinta-feira,16, deixou esse plano. Certamente, Deus o recebeu em luz.
A arte e a cultura de Mossoró estão tristes. Nossas condolências à família, amigos e fãs.
Caricatura do pintor, desenhista e caricaturista brasileiro Helios Seelinger selecionada para “Cartunistas do Brasil” do 18º Salão Internacional de Humor de Caratinga. Helios foi um grande ícone de sua época, influenciando, e continua, gerações até os dias atuais.
En estos días de un otoñal noviembre cumplió años un viejo amigo y paisano, el pintor Javier Gazapo (Caibarién,1967).
En su homenaje, el artista gráfico y maestro brasileño Brito Silva ha realizado una excelente caricatura al artista cubano afincado en Las Palmas de Gran Canaría.
“Bom dia, amigo. Espero ter correspondido as expectativas. Abraços”, me escribió hoy desde Brasil el maestro Silva regalándonos esta sorpresa que seguramente Gazapo sabrá valorar y agradecer.
“Fabuloso, hermano Brito”. Es un gran homenaje a un amigo. Gran abrazo”, le dije.
Dibujar a Javier Gazapo a sus 56 años es otro gratificante regalo del gran Silva, de quien siempre celebro su magistral estilo.
Todos os dias quando o sol desiste de nos assar vivos, João Miguel, meu neto caçula de um ano e seis meses, em uma língua, talvez alienígena, abre o verbo “bavô”, com o dedo em riste para o portão, a rotina explica que é hora de irmos à praça e, assim é feito sua vontade.
Atento às recomendações médicas – garantidoras – se for disciplinado me auto torturando com exercícios físicos seria recompensado com alguns anos de sobrevida. Pensei em saber do médico qual sua cartomante, retrocedi, não quis constrangê-lo, sabe-se lá, a maioria dos médicos do SUS fogem de um “face to face”, poderia proferir algum impropério contra minha mãezinha, neste caso me “espalharia” com pernadas a três por quatro. Na praça, tomei uns goles d’água o time foi se completando.
É sabido no encontro de sexagenários e além, a saudação é quase uma prova de vida: que bom lhe ver. Instantaneamente rola uma boa conversa, logo descambar nas mazelas da velhice: hoje esquecido de tomar o “diabo” da Losartana, outro rindo segue a toada “faz dias que não tomo”, um terceiro “minha mulher quase me bate porque esqueço, pior que ela também esquece” estende-se uma risadaria, como se nós já estivéssemos no Olimpo.
Como tudo não são flores, sempre há um fulano para jogar meleca no ventilador e como todos têm uma história triste a contar, não a nossa, mas, de um amigo: ontem meu vizinho foi achado morto em sua casa, o Samur falou que havia mais de três dias de sua morte. Alguém quis mais detalhes insistindo “a família? Os filhos?”, não tinha família. Mês passado o filho que morava com ele morreu em um acidente de trânsito, tem uma filha na Itália, mas ela só liga no Natal, Aniversário”, sem pedir licença a tristeza sentou-se.
Ouvi Lívia(4), irmã de João, gritando “vô”, pedi esculpa, saí com riso nos olhos constrangido por há pouco estar triste e meus tímpanos ao receberem as ondas carregadas com aquela voz me fez feliz imediatamente, isso em milésimo de segundos. Em seguida me dei conta, de Nietzsche “Eu sou vários. Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo”. Ora, sou humano, eu sou vários.
“No fundo, a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa” Roland Barthes
Pacífico Medeiros (Natal, 1967) reside desde sempre em Mossoró. Tendo uma carreira pontuada por diversos cursos e eventos vinculados à fotografia, embora haja nos seus trabalhos uma distância das técnicas utilizadas desde sempre nesse meio de retratar a realidade.
Antes de adentrarmos um pouco mais sobre esse original fotógrafo, cremos ser necessário voltar no tempo e buscarmos determinadas explicações que nos ajudem a compreender com mais propriedade e conhecimento alguns estilos de pintura que sofreram impacto quando do surgimento da fotografia.
Vejamos. Quando surge a fotografia, por volta de 1826, instala-se uma série de indagações acerca dessa nova maneira de retratar a realidade. Ao que parece, não havia o artesanal da pintura, do desenho ou da escultura. A pintura, mais apressada, sentiu-se emparedada, inquirindo afinal qual era mesmo sua função, pois sempre ocupou o papel de retratar a realidade, seu entorno e contornos. Sintomaticamente surge o Impressionismo, deixando a tela esmaecida ou tão-somente sugerindo, sobretudo, a retratação do humano. O recuo de formas bem diferentes, assim como sabia fazer o Realismo, Romantismo ou Academicismo, engendrou imagens que necessitavam de recuo físico da tela para que a imagem se desse a observar e conhecer. Basta contemplar a tela de Claude Monet: Impressão, nascer do sol (1872).
Acabada essa digressão, cumpre-nos tratar do ethos da fotografia fora do comum de Pacífico Medeiros. Refratando modelos, o produto final desse artista ocorre por meio de uma sobreposição de técnicas advindas de outros sistemas semióticos, sendo que estas são produzidas através de programas de
computadores, em um jogo no qual a fotografia primeva esmaece e é também ressaltada. Quase sempre emoldurando com contornos dramáticos o retrato de quem expressa um sentimento ou encontra-se envolvido em atividades de algum ofício. Tais figuras podem ser duplicadas ou triplicadas em uma espécie de crescendo, engendrando um belo efeito cromático de preto e branco sobre figuras geométricas coloridas.
Com efeito, há que compreender a função de múltiplas técnicas, – passando pela gramatura do papel e indo buscar um pano-de-fundo nos antigos mosaicos (ladrilhos) de residências ou igrejas, só para restar em um exemplo, – essa função perfaz uma aura estética inauguradora de uma nova obra, quem sabe uma nova ordem de pensar e refletir acerca da realidade.
Quero dizer com isso de uma nova ordem na fotografia, no qual a mensagem, via meios tradicionais e digitais, assomam no nosso derredor, largando uma forma monolítica que o retrato em preto e branco ou colorido demanda ao expectador. Mesmo detendo um eidos estético, com o sumo da mensagem multisignificativo, não esquece de apontar caminhos e pistas a quem está diante. Bem claro que o significante suplanta e questiona o que se diz, sugerindo o como.
Sucede um fenômeno nosso momento histórico; como sempre, este, fruto das condições socioeconômicas que a tudo e todos pintam com suas cores e nuances. A saber, uma algazarra de informações contidas nas redes sociais, sintetizadas no nome Internet. Muitos nem conseguem alcançar certas nomenclaturas e determinados manuseios nos grupos sociais. Contudo, podemos equacionar da seguinte maneira: tem tudo de bom, tem tudo de ruim. Nunca esquecendo o mal-estar que bafeja sobre tudo e todos, inclusive sobre a crítica de arte, ao que parece, em franca extinção.
O fotógrafo Pacífico Medeiros optou pela primeira, ousando inscrever suas fotografias em um amálgama de técnicas oriundas de diversos meios. Não deixando de lado o kairos, ou seja, o momento certo, a oportunidade não perdida de apreender através da objetiva elementos figurativos que irão compor uma espécie de ponto de fuga: mulheres, homens trabalhando, uma senhora que aquiesce, por meio das mãos, as vicissitudes do destino.
A exposição “ELE POR ELES E ELAS” montada desde o dia 05 de novembro em um dos locais mais lindos de Sampa, que é o Solar Fábio Prado da Fundação Padre Anchieta, Endereço: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2705 – SP. Se você estiver na bela capital, dê uma chegadinha por lá.
O 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba teve em sua programação, uma mostra paralela em homenagem a Zélio, ‘pai’ do Salão de Humor, que ficou aberta ao público até o dia 29 de outubro. A Exposição denominada ’50 vezes Zélio’, reuniu 50 caricaturas de Zélio Alves Pinto, feitas por 50 artistas convidados, entre brasileiros e estrangeiros teve curadoria do cartunista e produtor cultural caratinguense Elcio Danilo Russo Amorim, o Edra, diretor do Salão de Humor de Caratinga (MG).
“Em 2018, quando fiz parte da comissão julgadora de premiação em Piracicaba, foi assinado um convênio de parceria mútua entre os Salões de Humor de Caratinga e o Salão de Humor de Piracicaba. A exemplo da edição do ano passado, quando propus ao Júnior Kadeshi a exposição paralela em homenagem aos 90 anos de Ziraldo, voltei a fazer uma nova proposta uma nova mostra paralela de caricaturas pra este ano, desta vez em homenagem a Zélio Alves Pinto”, revela Edra.
O curador ressalta que é inegável a importância do Zélio na história do Salão de Humor de Piracicaba e a consideração que todos externizam a ele. “Fico imensamente grato a todos os artistas que atenderam ao meu convite e muito feliz em poder prestar esta merecida homenagem ao Zélio, por tudo que ele representa nas artes gráficas e pela sua importância em relação à existência de todos os salões de humor realizados no Brasil”, finaliza.
CARTUNISTAS PARTICIPANTES BRASIL: Adnael (AL), Aleixo (GO), Alex Faria, Alisson Afonso (RS), Amorim (RJ), Antoni Ribeiro Martins (RJ), Baptistão (SP), Brito (RN), Duarte (SP), Deraldo (BA), Edra (MG), Érico San Juan (SP), Fernandes (SP), F. Machado (SP), Fredson Silva (SP), Guedes (SP), Glen Batoca (RJ), Jal (SP), J. Bosco (PA), Jorge Inácio (ES), Jindelt (SC), Juska (RS), Leite (MG), Luciano Soares Lima (RS), Manga (SP), Maraska (SP), Miller (RJ), Mauro Miranda (RJ), Nei Lima (RJ), Paffaro (SP), Rosana Amorim (SP), Ricardo Antônio da Silveira (MG), Ricardo Soares (SP), Robinson (SP), Spacca (SP), Synnöve (SP), Ulisses (RJ). EXTERIOR: Santiagu (Portugal), Bassir Hassan (Iran), Berly Rivadeneira Sanchés (Peru), Brady Isquierdo (Dubai), Luis Armestar Miranda (Peru), Luis Demétrio (Cuba), Martín Falloca (Argentina), Walter Toscano (Peru), Omar Zevallos (Peru), Paulo Pinto (Portugal), Pedro Silva (Portugal), Shankar Parmarthy (Índia), Siamak Babani Gholami (Iran), Yuksel Cengiz (Turquia).
Não costumo me esquivar dos meus erros e terceirizar malfeitos, creio ser uma canalhice, uma cretinice. Portanto, como já disse antes que tenho poucas coisas para me arrepender, não que minha carga seja maneira, mas por ser crente do merecimento e, assim sendo, sou ciente de minhas enormes falhas, as quais ao longo do tempo tentei sepultá-las, algumas consegui mantê-las no porão, mesma aquelas mais latentes as pus em corrente curta, entretanto, outras tão sutis e dissimuladas, quando você imagina que as domou elas surgem violentas e nos revelam quem somos, por outro lado elas me mantém lúcido e certo de minhas robustas debilidades.
Eu conheço todas as minhas qualidades boas e más: fraquezas, imperfeições, também minhas aptidões e brio não que tenha posto o pé na soleira da sabedoria, esteja sob a paz infinita, me tornado “iluminado”, encontrado meu nivarna. Caminho muito distante disto, meus pecados, defeitos são maiores que minhas boas qualidades. Todo santo dia, quando ele se esvai vejo que Leonard Vinci foi claro e preciso quando cunhou “A maior decepção que o homem sofre advém das suas próprias opiniões”. Juro que tento ser menos arrogante, mais humilde, mais compreensivo, sabendo que para isso é preciso ser forte e corajoso, porém, acabo me rendendo a fraqueza e a covardia. Talvez meus valores éticos, morais e visão de mundo tenham envelhecidos ou, talvez, já tenha me tornado em um velho tolo. Entretanto, como diz Gilberto Gil “os pecados são todos meus”.
É certo, que a arrogância, a empáfia, a falta de humildade nos permeiam, nos cobre a pele como um grosso casaco de inverno dos esquimós e, por que isto? Não sei. Talvez quem sabe, lá no fundo d’alma, para aqueles que acreditam na “Palavra” não seja a vergonha de revelarem-se pobres diabos hipócritas descrentes, que apenas finge e assim se constituíram em sepulcros caiados”.
“Meu pastor não sabe que eu sei da arma oculta em sua mão”, música de João Bosco, Milton Nascimento e Toninho Horta. Me causa pena, dos que, com Bíblia na ponta da língua cultivam gestos e ações na ponta do ariete.
Quando digo que há pouca coisa para me arrepender, ora quero dizer que dessa vida nada se leva, se é que se vai algum lugar, nem as riquezas e menos ainda os sacrilégios. Haja vista, que aos que aqui têm o privilégio de andarem não se vão devedores, todos pagam seu quinhão, todos compram antecipadamente a passagem de ida.
oaquim Silva Saldanha nasceu em 11 de dezembro de 1872, faleceu em 14 de junho de 1936, na cidade de Caraúbas. Era Coronel da Guarda Nacional, latifundiário de terras no Rio Grande do Norte e Paraíba. Essa titulatura, menos remetia a se considerar como um quadro de uma instituição nacional, e mais como espécie de título encomiástico que imprimia a quem houvesse tê-lo, poder e valor, visto está quase sempre atrelado a personagens da região Nordeste caracterizados pela posse de grandes datas de terras e ao criatório de animais adaptados à região do Semiárido.
O Coronelismo foi uma instituição extremamente importante na gramática do teatro social, desde sempre das gentes habitantes sertões adentro. Foi casado com uma prima, a Sra. Joaquina Veras Saldanha, tendo gerado dez filhos. Passou e residir na casa dos arredores de Caraúbas em 1920.
Vinculado ao patriarcado das gentes nordestinas, administrava suas propriedades rurais como um legítimo senhor de terras e gentes. Residiu por muito tempo em duas suas fazendas: Fazenda Aldeia e Fazenda Amazonas, sendo que nessa época estavam localizadas no município de Brejo do Cruz. Na época, a aristocracia agrária se confundia com a política. Em assim sendo,
participou da Revolução de 30 como um dos chefes no Rio Grande do Norte, filiado ao Partido Nacional Socialista. Era conhecido pela alcunha de “Gato Vermelho” (Informações acima podemos encontrar no livro A história continua… Saldanha & Veras, de Francisco Galbi Saldanha, Natal: Fundação Vingt-un Rosado, 2021)
Saindo da região Assu/Mossoró, com destino à região Sertão do Apodi, adentrando pelas quentes terras que caracterizam as condições climatológicas oriundas das bodas entre um sol inclemente e da ausência de chuvas, sobretudo quando assoma a estação seca, eis que podemos encontrar a cidade de Caraúbas. Pouco antes de chegar à zona urbana, do lado esquerdo, ergue-se uma casa que quase obriga os passantes nos automóveis a contemplar. É o que ficou conhecida como a “Casa de Quincas Saldanha”.
A casa parece refletir a personalidade do seu proprietário. Os traços arquitetônicos são inequívocos ao primar pela ordem, equilíbrio e sobriedade, lançando para distritos outros que abriga o emotivo, sentimentos de arrebatamento do espírito ou os chamados pulsares que ficou conhecido
como coisas do coração. A própria cobertura de telhas, com sua água anterior declinando para a fachada sugere ao visitante que se achega à casa firmar seu contato primeiro com a residência. Não há como negar, um monumento erguido não somente pela sua funcionalidade de habitar e servir de abrigo, mas ergue-se discreta simplicidade de linhas retas, como objeto estético a ser contemplado e fruído.
Com efeito, essa fachada, ausente de porta de entrada, ergue-se a partir de uma cumeeira que cai em duas águas. Ao invés do que tradicionalmente consta na arquitetura dita clássica, visto que as duas águas mestras encontram-se no cume do telhado, conformando um triângulo retângulo cujo pico do telhado é o encontro das duas águas, aqui é diferente, remetendo muito mais as casas construídas em regiões quentes. A altura possibilita a entrada e a circulação do vento, refrescando o interior da casa. A porta de entrada localiza-se do lado direito, onde há um oitão largo e longo, separando essa casa da residência do que parece ser a de um morador.
Retornemos à fachada principal. Há uma platibanda de pouca altura, se considerarmos uma linha que sobrepõe todo um retângulo circunscrevendo as duas faces exatamente iguais, quer dizer, podemos riscar uma linha cortando a fachada ao meio: teremos duas janelas de cada lado, dentre outros elementos ornamentais, também com presença bilateral, provocando uma suave harmonia no espírito de quem avista a casa pela primeira vez.
Dessarte, a platibanda com essa compleição, deixando nu o telhado que cai para a fachada principal, não consegue esconder o que ficou conhecido como sua função. A saber, disfarçar ou esconder o que recobre uma casa. Talvez essa obrigação de obliterar o telhado ou elementos da cumeeira, como madeira mais espessas ou caibros, esteja relacionado às residências urbanas, de cidades pequenas ou não, no qual a aparência deve ser algo valorizado.
Há quatro janelas, cuja porta de entrada do lado direito permitiu que se organizassem os elementos acima citados. Toda estrutura e repartição em cômodos remete à arquitetura das casas sertanejas, apenas a fachada refoge, evocando em sua compleição as casas urbanas, embora esta detenha um requinte estilístico que a faz conter em seu conjunto uma planta que diz respeito a determinadas tradições estéticas dos estilos históricos que podemos, sem muito esforço, encontrar os traços.
Isso posto, ainda temos a levar em consideração formas que persistem na História da Arte desde sempre, emergindo de vez em quando, consoante a necessidade ou demandas de condições históricas relacionadas a povos ou países. Eis o caso do Barroco. Alguns pesquisadores apontam as
especificidades do cone semântico nos quais determinados elementos integrantes das edificações do século XVII.
Isso não quer dizer que essa escansão seja rígida, como se ao findar determinado Ar do Tempo, imediatamente encerrassem as formas de sentir e agir de grupos sociais.
Essa digressão nos permite compreender e classificar o estilo da casa de Quincas Saldanha como caudatária do que ficou conhecido como estilo Clássico, sendo que nesta todo o vocabulário de elementos manuseados encontram-se estilizados ou são paráfrases, ou seja, não iremos encontrar o glossário de referente aos elementos integrantes das edificações grecolatinas. Contudo, um expectador mais atento encontrará os princípios que regem a arquitetura dessa tradição que sempre acompanhou a História da Arte ocidental.
Faz-se necessário remarcar a compleição da fachada. Apenas as quatro janelas detém um caráter funcional, na medida em que servem para deixar a luz iluminar o interior dos cômodos, bem como permitir a circulação do vento, refrescando e funcionando como “limpador” das energias paradas do interior da casa.
Podemos observar uma série de elementos em autorelevo. Foi o que insistimos em nominar de estilização ou paráfrase. Cinco colunas quadráticas perfilam toda a fachada, tanto nos extremos direito e esquerdo quanto como adereços separadores das janelas. As duas janelas centrais são encimadas por espécies de frontões mais elevados do que o retângulo horizontal observado na totalidade da fachada. São puramente decorativos, sendo que destoam um tanto do conjunto, pois aparece e predomina a linha curva, sem ostentação ou extravagância. Ao que parece, imprime uma certa solenidade para visitantes, antes de chegar na calçada da herdade, sendo o que arremata todo o conjunto a existência de dois triângulos, com volutas voltadas para baixo. Há que remarcar o adorno presente em todas as estilizações das cinco colunas: conchas superpostas, encerrando lá em cima o ataviamento da platibanda.
Por certo, foi para compor uma harmonia, tendo em vista o aparecimento da linha curva, e sua reverberação, que puseram dois círculos no meio e em cada lado, uma redução em linhas gerais de uma flor, como soi acontecer em toda a História da Arte no Ocidente, no qual foi presença marcante no estilo
Gótico. Sintomático que apareça justo nos dois lados da linha que separa a fachada em duas faces exatamente iguais. Essa forma da rosácea sempre foi manuseada no âmbito das edificações para serem usadas como janelas e
filtrarem a luz para o interior da construção. No nosso caso, os dois círculos com traços evocadores de uma rosa no seu interior, ou seja, a metonímia da parte pelo todo, visto não existir pétalas, mas riscos que emanam do centro, parecem sugerir insígnias invocadoras de uma geometria relacionada ao sacro, pois desde sempre as tradições religiosas relacionaram o círculo como totalidade, simbolizando Deus.
De fato, consciente ou inconscientemente, organizou-se na fachada representante da moradia do Coronel Quincas Saldanha simplificações geométricas de formas que atentamente observadas podemos encontrar uma confluência de símbolos que reforçam o lugar social do seu morador. No caso dos círculos, eis a representação e presença do divino. O deus aqui presente é o relacionado às tradições da Igreja Católica, desde muito dominantes nesses sertões interior a dentro. Cúmplices e justificadoras de uma microfísica do poder, imperando por meio de alianças cujo Deus legitimava a ideologia do Patriarcado Rural.
Por fim, destacaremos a casa de morador do lado direito, edificada com extrema simplicidade. As duas águas seguem o paradigma das casas oriundas dos sertões: pé direito sempre alto, abrindo espaço interno para a ventilação, haja vista o clima tendo dias longos e quentes, esse artificio permite um tanto de conforto. Há uma porta e uma janela, na sua fachada nua, desprovida de qualquer ornamentação, quer dizer, tudo é funcional, mesmo a calçada um tanto alta, para nivelar o sítio onde está a casa.
Outra coisa é a parede circundante do curral, a qual foi construída em alvenaria, dividida meio a meio. A parte inferior é maciça, já a parte superior tem uma alternância de colunas separadas por espécies de ripas de concreto, em número de três. E assim segue o mesmo padrão, sendo que apenas na linha onde se encontra a porteira prevalece. Essa corporatura, provavelmente, não é muito comum nos currais das casas de moradores mais modestos ou mesmo detentor de vastas propriedades.
Para encerrar, se faz necessário proclamar a beleza da Casa de Quincas Saldanha, chantada nos ermos das terras agrestes do Semiárido. Sua simplificação geométrica nas formas expressa uma disposição de espírito inerente, quase sempre, aos que nascem sertões afora, voltados para rotinas vinculadas a um escandir do tempo preocupados com as duas estações: a seca e a chuvosa. Quando a seca se estende por muitos meses ou anos, há que buscar artifícios de sobrevivência, mesmo para pessoas abastadas, como é o caso do proprietário dessa herdade.
Por fim, gostaria de registrar uma informação acerca de Quincas Saldanha, o seu neto Joaquim da Silva Saldanha Neto (31.05.1937 – 28.07.1979), filho do Sr. Benedito Veras Saldanha (Beni Saldanha) e da Sra. Helena Saldanha, médico formado no Recife, sendo que faleceu no Rio de Janeiro. Beny era filho de Quincas Saldanha. Casou-se com a Sra. Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia (*09.10.1947), em 09 de outubro de 1969, filha de Dix-Sept Rosado e Adalgisa Rosado. Esse médico exerceu a profissão em Mossoró, conhecido como gentil e generoso, querido pelos mais humildes, nunca recusando atender qualquer pessoa. Era agropecuarista de região de Campo Grande (RN) e Belém do Brejo do Cruz (PB).