Até logo meu pai
O filósofo Mário Sérgio Cortella, tem um livro intitulado “Qual a Tua Obra?”, onde pode se notar a provocação que a princípio parece ser bastante seletiva, pois não é. Na verdade ele versa sobre o que nós devemos fazer no dia a dia para quando dessa vida partirmos, e certeza que vamos todos, deixar algum legado, alguma coisa para que não sejamos “mortos”, isto é, esquecidos. Não do ponto de vista apenas físico-intelectual: escrever um livro, ter um filho ou plantar uma árvore ou ainda talvez pintar um quadro, como talvez possa imaginar pelo título de sua obra. Mas, do ponto de vista ético, moral, humanitário.
Escrever o livro da sua vida, sua própria história com trajetória de verdade, honradez sem interessar se tem pouco ou muito vil metal, pois ele é perecível, tem a propriedade de findar, se acabar e, portanto, diferente de suas ideias, pensamentos e ensinamentos que permanecem. Lembra ele outro filósofo inglês do século XX, o qual dizia que “a vida é muito curta para ser pequena”.
Ter um filho, nos remete a possuir alguém com quem partilhar, com quem deixar a história e a certeza que não será esquecida, que seu legado será levado adiante e talvez, acrescentado, melhorado.
Árvore é reafirmação que sua vida não foi vã, que você plantou a semente e ela floresceu, mostrando que sua vida não foi pequena, pode ter sido curta, e são todas, mas não foi pequena, pois ficará enraizada no seu legado, em suas ações e ideias. É assim que também vejo a vida.
Terça-feia, 29 de junho, perdi meu pai, não perdi, apenas não o teremos no plano físico. Meu pai deu seu último suspiro e fez a “viagem” que todos faremos, sem exceção, todos iremos um dia, sem bagagem. Homem humilde, que por anos foi vendedor de picolé na cidade de Mossoró/RN. Semianalfabeto como todo brasileiro de origem pobre de sua geração, da qual lhe roubaram o direito de ler e escrever. Em nossas conversas embaixo da mangueira, lá em Parnamirim/RN, onde morava me dizia “Naquele tempo pobre só podia puxar cobra para os pés, – limpar(campinar) mato de enxada – quem estudava era os filhos do patrão que iam para capital ser advogado ou doutor(médico)”, apesar de ter ciência que isto era uma violência, não falava com mágoa ou ressentimento. Parecia perdoar os governos algozes que lhe impôs tal condição de vida. Seu bom humor nos dizia isto.
A gente notava o orgulho quando falava dos seus filhos e netos “estudados” – como dizia – isto por si só, aparentemente lhe bastava para aplacar alguma mágoa ou cicatriz que pudessem por ventura existir, nunca o vi reclamar da vida, maldizê-la, sempre tinha um olhar de esperança no futuro, mas expressava que era precisa ir à luta: “Nada cai do céu”.
Meu pai seu legado está em mim, nos seus filhos e netos. Confesso que repassei todos aqueles valores que fizeram de sua curta vida, não pequena, mas, uma vida que todos nós sentimos orgulho de tê-la compartilhada com o senhor, para meus filhos já propus e se Deus me permitir transmitirei aos seus bisnetos: Honradez, honestidade e humildade estes conceitos éticos estão enraizados em nós por obra sua. Seu Luís nos deixou. Meu velho e querido pai sua obra não será esquecida. Até logo seu Luís.
Seu filho Brito