A poesia e o cartum
Meu entendimento na arte dos versos e igual ao conhecimento sobre física quântica, isto é, nada! Entretanto, a poesia é uma das formas literárias que mais admiro e degusto com satisfação, talvez, por em meus delírios e impressões, ver alguma semelhança com o que faço, isto é, com os meus maus traçados e a poesia. Creio que o cartunista e o poeta têm em comum a fineza da síntese, a delicadeza e a sutileza de transmitir, muitas vezes, nas entrelinhas e traços,
Henfil com a pena no nanquin era mordaz e cortante como Ferreira Gullar em seu Poema Sujo: “Ferreira Gullar […] acaba de escrever um dos mais importantes poemas deste meio século, pelo menos nas línguas que eu conheço; e certamente o mais rico, generoso (e paralelamente rigoroso) e transbordante de vida de toda a literatura brasileira”, disse o Vinícius de Moraes.
Por falar no “Poetinha” ouso dizer que sua poesia e do jornalista Cid Augusto se entrelaçam em amores nas curvas sinuosas das mulatas desenhadas pelo cartunista Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini, ou simplesmente Lan, italiano de nascimento, mas brasileiro de coração, com o qual expressava no bico de sua pena as cariocas.
Laércio Eugênio Cavalcante tem a leveza e firmeza no traço imposto aos seus cartuns tal e qual as redondilhas que brotam da mente fértil do grande poeta mossoroense Antonio Francisco, transbordadas de sertaneidade na forma, cor no cheiro de terra molhada. Pode ser que alguns digam que Maria me deu o remédio errado, agora, não me neguem o direito de dizer que o Beco da Lama – Ora, outro dia um amigo me disse que o Beco da Lama é poesia – caminha de mãos dadas com os traços de Edmar Viana, que junto com o jornalista Everaldo Lopes encantou e divertiu por décadas os leitores do Diário de Natal e Tribuna do Norte, no seu Cartão Amarelo com seus traços poéticos.
Talvez tenha pouca lucidez, quer dizer, de fato, não tenho nenhuma, em se tratando de poesia. Mas ainda assim, me permito trazer essa semelhança entre o poeta e o cartunista, faço essa parecença sem o menor pudor, esse encontro, embora, haja tantas desencontros pela vida: ao poeta lhe confere respirar o mundo, suas dores, suas alegrias, suas mazelas, seus amanheceres e juntar palavras exprimindo sentimentos, isto é a matéria-prima do cartunista.
A charge tem simetria, métrica, pode ser concreta, lírica, épica, dramática…Me disse um amigo que sob a pena se imprimi a alma, talvez, seja por isto que a minha voa. Sei que vocês vão dizer que viajei na maionese. Ora (direis) ouvir estrelas! Certo. Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,”: Vou ali desenhar um poema. Vivas à poesia, vivas aos poetas!!!
Brito e Silva – Cartunista