A força do voto

Não tenho dúvidas de que há pessoas que reverberam o discurso fascista, do bolsonarismo, são movidas por falta de conhecimento, uma ignorância latente sobre os fatos políticos e, muitas vezes, por pura preguiça de buscar informações que ativariam tarefas cognitivas. Funções que seriam capazes de discernir um fato real de uma fake news, permitindo a construção de uma opinião própria, compatível com a realidade.

Contudo, é igualmente evidente que, além daqueles que, nos esgotos, fabricam teses mirabolantes e falseiam a realidade produzindo maldades contra o povo, existe uma camada expressiva de vetores desse discurso. E aqui não falo dos alienados, mas de pessoas de má índole, gente ruim, de alma apodrecida, mal amadas, que canalizam sua frustração existencial em forma de ódio. Agarram-se à maldade como fuga da própria mediocridade, semeando-a na vida alheia. São indivíduos moral e espiritualmente desqualificados.

Outro dia, na fila do pão do Carrefour, fui testemunha ocular de uma discussão entre uma senhora, nitidamente bolsonarista, e um senhor de perfil visivelmente progressista. O tema era a fraude no INSS. Eu, ali de butuca e com as “zureias” escancaradas, pude perceber a crueldade que esse tipo de mentalidade fascista impõe ao povo. Aquela senhora não apresentava uma alegação sólida, apenas repetia com veemência as fakes news de sempre. Com ar e um sorriso de vitória resumiu seus argumentos “Desse jeito, com um ladrão no poder, não vamos pra frente nunca”.

Aquela cena me levou a uma reflexão que, à primeira vista, pode parecer boba, mas não é. Todos sabemos que a potência dos motores foi baseada, originalmente, na força que um cavalo é capaz de exercer puxando certo peso em determinado tempo. Nos carros, essa medida é evidente, transformando-se em velocidade.

Sou fã de filmes de faroeste, especialmente os clássicos com John Wayne, Clint Eastwood, Henry Fonda, Gregory Peck, Jack Palance, entre outros. Sempre me chamou a atenção o fato de que, ao descerem de seus cavalos para entrar no saloon, os personagens não os amarravam de verdade: apenas enrolavam o cabresto numa estaca de madeira, o famoso mourão. Se o cavalo quisesse, bastava um passo para trás ou levantar as patas e estaria livre. Mas ele não fazia isso. Por quê? Porque não sabia que estava solto. Foi adestrado. E, mais importante, ele não sabia a força que tinha.

Se o dono morresse ali e não houvesse qualquer estímulo externo, o cavalo morreria de pé, imóvel, sem jamais tentar escapar.

É assim que veja os ignorantes: não sabem que estão amarrados, e tampouco conhecem a força que têm. Agora imagine 155 milhões de brasileiros votantes, conscientes do poder de seu voto? Sem dúvida, este meu Brasil brasileiro seria outro.

Brito e Silva – Cartunista

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