A cultura da bala
Lá em meados dos anos 70 quando chegava a segunda-feira a gente já estava pensando qual seria o vesperal do Cine Pax ou Cine Cid, se Dona Geralda – Minha mãe – iria nos dar dinheiro para novamente ir “aperriar” Balão e na volta tocar a campainha da casa de Seu João Cantídio e correr até ficarmos esbaforidos pondo os bofes pra fora. Então, para garantir a empreitada dominical, ficávamos de “zuvidos” colados na nossa Rádio Vitrola ABC Isabela V – ABC Voz de Ouro, sintonizada na Rádio Rural de Mossoró, de olho nos anúncios dos filmes para final de semana e se a entrada seria com garrafas de vidro, se fosse assim,o dinheiro do ingresso já garantia o sorvete ou a entrada a noite, no Cardeal Câmara, do da Igreja São José, aonde certamente, dançaríamos Twist and Shout – The Beatles.
“Flechas Ardentes”, “Um Dólar Furado”, “Keoma”, “Era Uma Vez No Oeste”, “Maciste”, “Ben-Hur”, Operação Dragão”…Enfim, todos filmes de luta, exceto no final de ano que o cardápio mudava: “Paixão de Cristo”. “Dio Como te amo”, Love Story”….Entretanto, o que encantava a todos nós pré-adolescentes e adolescentes eram os filmes de luta. A maioria possuía ou pensava em ter um revólver de alumínio com espoletas ou aprender a lutar Karatê e sair esmurrando paredes e inimigos ocultos, imitando Bruce Lee, pois eram assim os “mocinhos” da grande tela: bravos, fortes e naquele mundo selvagem resolviam tudo a bala ou a golpes de lutas marciais.
Eu já dava meus primeiros passos em leitura mais densas, como os Os Irmãos Karamazov – confesso que não entendia bulhufas, mas servia pra eu me “amostrar” com os amigos – também já começava a perceber certos boatos sobre comunistas e a ditadura militar, gente desaparecida, essas coisa. Mas, ainda assim, nossos heróis não morriam de overdose, mas de bala.
Era a cultura da bala sendo implementada pelos italianos nas terras dos yankees que rapidamente aprenderam. Hoje, ainda na cama, liguei a tv e não para minha surpresa estava sendo reprisado pela milésima nona vez o “De volta ao Jogo”, com Keanu Reeves, no qual interpreta um assassino profissional aposentado, que volta a ativa para vingar a morte de seu cachorrinho de estimação.
Esta foi a terceira vez que tentei contar quantos pessoas John Wick mata, mas sempre sou interrompido, já tinha somado 3.433 mortes, quando o WhatsApp me tirou atenção, marquei a cena, da próxima vez que topar com John Wick continuarei de onde parei. Segundo Maria, não deve ter sobrado uma alma viva no set de filmagem.
Brito e Silva – Cartunista