Déjà-vu
Diz o poeta Gonzaguinha “Saudade a gente não explica…” eu tendo a acreditar nisto. Todos nós uma vez outra ficamos saudosos. Uma música, um perfume, uma foto nos catapulta ao passado, quando este foi bom somos embrulhados em lembranças e numa felicidade resgatada. Parece que nos renovamos – se é que seja possível -, seria de bom tamanho se estes “TBTs” fossem apenas de momentos bons, entretanto não controlamos os gatilhos que os acionam, muito embora sabendo quais, às vezes as lembranças não são tão boas, o que não é o caso.
Também por vezes em nossa vida todos já passamos, pelo menos por um “déjà-vu”. Aquela sensação quando estamos em um lugar e ter a mais absoluta nítida certeza que já pisou ali, mesmo consciente que não poderia nunca ter estado naquele local. Os médicos chamam isto de Paramnésia – distúrbio da memória, em que se relembram as palavras e coisas, porém fora de sua significação exata -.
Pois muito bem. Ouvindo músicas no Youtube, bastante concentrado finalizando a caricatura de Elza Soares, por ocasião de seus 91 anos, no último 23 de junho, repentinamente uma voz bem postada como de um disc jockey, hoje apenas DJ, soou: “Prepare-se! Roberto – não sei das quantas – vai te levar em uma viagem musical pelos melhores hits dos últimos tempos”, por Deus, os primeiros acordes da canção me vi como uma projeção holográfica dentro do estúdio da FM Santa Clara, em Mossoró/RN, n’O Som do Caby com meu amigo Caby da Costa Lima (in memoriam), dizendo: “rode as carrapetas Ênio Ticiano”, o qual não se fazendo de rogado apertou o Play. Ainda sobre introdução “Esta música vai pro meu amigo Camaradinha Brito e Silva. Camaradinha veja esse nome, um dia vamos montar uma agência de publicidade juntos com esse nome, solte aí Ênio, de Nando Cordel, Azougue”, dizia Caby.
Não implementamos uma agência de publicidade, mas é verdade que criamos o site www.azougue.com o qual fiquei pouco tempo, pois já morava em Natal e Caby em Mossoró, isto por volta de 2005(?), a internet era muito ruim tornando inviável minha participação mais efetiva, logo o Camaradinha deu sequência sozinho até sua morte.
Neste turbilhão de imagens e emoções tropecei numa lembrança de quando nos reunimos na casa do amigo Rogério Dias, para fundarmos uma associação de agências de publicidade de Mossoró. O tempo passava, já cansados de esperar, além do anfitrião Rogério, eu, Paulo Oliveira, Gilberto Souza e mais outros publicitários que me fogem a memória – desculpem minha sexagenária memória -, lá pelas 21h decidimos dar início a reunião sem a presença dos atrasados. Estávamos citando os nomes das agências para constar na ata: Auge Propaganda, Brito Propaganda, Palco Publicidade, Gás Propaganda, de repente entra Caby, quando Gilberto de Souza sentencia: “Pronto, chegou a Raimundo Nonato Faixas e Cartazes”, o Camaradinha rodou nos tamancos, deu meia volta e foi embora, certamente, ficou alguns dias “de mal “ com Giba.
Caby, “pegava ar” quando alguém o chamava de Raimundo Nonato. Sou testemunha – durante os mais de 30 anos de nossa amizade, ficávamos “de mal”, pelos menos duas vezes por semana – aqui no torrão, você não conseguia passar mais de três dias com raiva de algum amigo, imagine aí, ao lado de JC, por isso, sei que vai me perdoar pela indiscrição.
Brito e Silva – Cartunista