Prêmio Vladimir Herzog
Natal, 26 de outubro de 2020
Aos meus netos.
Ontem,25, foi realizada a cerimônia de entrega do 42º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Por causa da pandemia, parte foi gravada e transmitida pela internet.
O Vladimir Herzog é o maior e mais importante prêmio da imprensa brasileira, que presta homenagem e reconhece o trabalho de jornalistas, repórteres fotográficos e artistas do traço que, por meio de seu trabalho cotidiano, defendem a Democracia, a Cidadania e os Direitos Humanos.
Quem foi Vladimir Herzog? Jornalista, professor e dramaturgo brasileiro naturalizado. Nascido na Iugoslávia, em 1937, filho de um casal de origem judaica. Durante a Segunda Guerra Mundial, para escapar do antissemitismo praticado pelo estado Croata, então controlado pela Alemanha Nazista, a família fugiu para a Itália, depois para o Brasil.
Foi diretor do departamento de telejornalismo da TV Cultura, professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Militante do Partido Comunista Brasileiro, se tornando uma liderança de resistência contra a ditadura. Depois de se apresentar voluntariamente para “prestar esclarecimentos” sobre seu envolvimento com o Partido Comunista. Foi preso, torturado e assassinado, em 25 de outubro de 1975, pela ditadura, nas instalações do DOI-CODI, no quartel-general do II Exército, em São Paulo/SP. Seu assassinato foi negado pelas forças reacionárias, diziam que foi suicído, até uma foto emblemática, no qual aparece quase de joelhos com um cinto no pescoço amarrado a uma grade. Peritos – a foto desmistificava e desmentia – atestaram a impossibilidade de alguém se enforcar daquela forma.
Voltando ao Prêmio. Nenhum de nós, participantes do movimento CHARGE CONTINUADA em solidariedade ao cartunista Aroeira, ameaçado pelo Presidente da República, o famoso Capitão Bufão, o fez para ganhar prêmio. Mas sim, para demonstrar nosso apoio a um colega e defender a liberdade de expressão, hoje, tão atacada.
Minha infância, adolescência e parte de minha vida adulta, foi sob o regime militar e lhes digo: ler, ouvir, falar, cantar, escrever, vestir, fumar, beber, desenhar não do seu jeito, mas do jeito que “eles” queriam. Viver com medo e sem liberdade não foi boa experiência.
Por isso, desde cedo decidi, dentro do meu micro-universo, travar luta em favor das liberdades e balizado por leituras e ensinamento de um Jovem Galileu, o qual lutava por justiça, segui em frente. Em 1979, entrei para o jornal Gazeta do Oeste, onde consegui ampliar meus horizontes e firmar meu pensamento. Participei do movimento sindical: gráfico e jornalístico, nos anos 80 fui para a Cooperativa do Jornalista de Natal, sob a batuta do velho comunista Luciano e, até hoje, luto, imagino e quero um mundo melhor para todos os trabalhadores.
Haverá quem queira minimizar ou desdenhar deste PRÊMIO DESTAQUE por se tratar de uma comenda coletiva, Ora direi: Ele é importante, e talvez, ficou maior, exatamente pela simbologia imprimida à luta de todos, visto que foi criado especialmente para esse movimento dos cartunistas:
“De fato, foi tudo muito desafiador porque sem antecedentes e modelos. Tivemos que criar tudo do zero e baseado apenas em algumas experiências remotas que não tinham, nem de longe, a dimensão e a complexidade do PVH. Mas foi o possível neste cenário atual de pandemia e pandemônio”. Ana Luisa Zaniboni Gomes, curadora.
Mas, o que quero dizer é que não importam suas vitórias e conquistas, se elas não tiverem alicerces nas boas batalhas, nas causas justas, se assim não forem, certamente, irão perecer sem honra. Lutem por justiça!
Brito – Cartunista