Conto de natal
João de Nego poderia muito bem ser chamado de um “Zé Ninguém”, como tantos outros “Zés” que não têm peso algum nas oscilações do Ibovespa. Esquecido pelo poder público, por Deus e pelo diabo, João se tornou presa fácil dos mercadores da fé. Ele é auxiliar de pedreiro na Construtora MEI, do seu orgulhoso cunhado, que, incentivado pelos órgãos governamentais, se tornou parte da legião de Microempreendedores Individuais.
– Apolônio…
– Apolônio não! Você sabe que mudei meu nome. A cartomante e o “cutchi” disseram que, pra ter sucesso, é preciso mudar. Como nunca gostei do meu nome, comecei por ele.
– E devo te chamar de Biu ou Jobis?
– Pelo nome completo: Biu Jobis.
– Tá certo… Biu Jobis, na quarta-feira vou faltar. Depois de três meses, minha mulher conseguiu uma ficha pra eu mostrar os exames ao “dôtor” lá no “postim”.
– Ah, não! De novo, não! Há seis meses você chegou atrasado, e agora quer faltar o dia inteiro?
– Ué, mas se eu ficar doente, não é pior?
– Pior pra quem?
– Ora, pior porque não vou poder trabalhar pra você!
– Pra mim não, eu boto outro no seu lugar.
– Ixi, Apoli… Quer dizer, Biu Jobis, você mudou muito.
– Claro, agora sou empreendedor, sou empresário.
No fim, o empresário liberou João. Naquela quarta-feira, João acordou às quatro da manhã e foi ao Posto de Saúde. Ao chegar, encontrou uma fila enorme e acomodou-se num canto. Por volta das dez, pediu à senhora falante à sua frente, que todo mundo sabia ser diabética (pois ela contava isso em alto e bom som para um idoso surdo à sua frente):
– A senhora guarda meu lugar? Vou ali comer alguma coisa. Hoje não coloquei nada no bucho.
– Só se você trouxer um pastel e um suco de maracujá pra mim.
– Tá certo.
Contando os trocados, percebeu que só tinha o suficiente para dois pastéis, um suco e a passagem de ônibus de volta. Comeu um pastel, bebeu um gole de água e levou o outro pastel e o suco para a senhora.
Às duas da tarde, João voltava para casa num ônibus abafado, com a temperatura beirando os 40 graus. Além do motorista, havia mais três passageiros. Na parada seguinte, dois jovens entraram anunciando um assalto:
– Perdeu, perdeu! Passa tudo!
Quando chegaram a João, perceberam que ele estava chorando e começaram a rir:
– Ô véi frouxo, já tá chorando e nem apontei o “berro” pra ele. Outro riu ainda mais:
– Tá chorando com medo de morrer?
– Não, meus jovens. Não tenho medo de morrer. Estou chorando com pena de vocês.
– Pena de “nóis”? Tá louco, é?
– Acabei de sair do médico. Ele disse que só tenho três meses de vida. Se um de vocês atirar em mim, só vai encurtar o pouco que me resta da jornada, e vocês vão continuar nessa miséria em que estão vivendo.
Os jovens, sem dar ouvidos, insensíveis a tudo e, principalmente, com perspectivas de vida tão estreitas quanto os corredores do ônibus, roubaram celulares e pertences dos outros passageiros. Antes de ir embora, ainda debocharam:
– A gente podia acabar com o seu sofrimento, mas vamos deixar você morrer devagar. Bora, bora vazar! Gritou um deles.
Sob o lusco-fusco, João finalmente chegou à esquina de sua rua, depois de passar mais de duas horas na delegacia registrando o assalto. Sua mulher, em prantos, correu para abraçá-lo. Nesse instante, João teve certeza de que morreria em breve. Lágrimas minaram dos seus olhos, molhando aquela maltratada pele negra queimada de sol, como se fossem uma espécie de despedida. Pensamentos inundaram sua doce alma, recortes da vida que levara, imagens entrelaçadas dos filhos e netos giram em sua mente. Como tudo tem começo, meio e fim, certamente esse seria o seu final.
– Foi um erro, João! Foi um erro… Joana soluçou.
– O laboratório errou. Esses exames não são seus…
Abraçados, os dois desceram a viela sob as luzes de Natal dos barracos entre um rasgo de luz e muita escuridão criava-se um cenário fantasmagórico alheio para eles. Enquanto o prefeito, aos berros no rádio, discursava sobre as cestas natalinas distribuídas às pessoas de baixa renda. No barraco, os dois sentaram à mesa – improvisada com meia lâmina de MDF – para jantar: pão com mortadela e uma Coca-Cola de dois litros, esperando o espírito natalino bater à porta. Juntos, contavam as moedas para completar o dízimo, para o pastor fazer a “festinha” de Natal.
Exposição
Prego batido e ponta virada! Em sintonia fina com o jornalista Ailton Medeiros, diretor da Biblioteca Câmara Cascudo, detalhes superados, estaremos eu, Brum e Joe Bonfim expondo nossos trabalhos de caricaturas, charges e cartuns durante 60 dias, abertura no dia 8 de fevereiro a 12 de abril de 2025.
Durante o período haverão oficinas e palestras para estudantes, faltando apenas ajustar a programação.
Caso Isolado
Caso Isolado, lavra do policial civil Pedro Chê e da policial da PRF Páris Borges, é um podcast que une segurança pública, crítica social, ironia e humor para abordar temas relevantes e atuais. Longe de ser um programa policial, oferece uma visão ácida e reflexiva sobre a sociedade. Com uma narrativa envolvente, explora questões de justiça, violência e cidadania sob uma ótica provocativa. Ideal para quem busca informação com leveza e sarcasmo, é um espaço de debates ousados e bem-humorados. Seu estilo único cativa ouvintes que apreciam análises críticas e inteligentes.
Frase
“Sem anistia!!!” Frase uníssona de norte a sul de leste a oeste.
Caricatura
A caricatura de Vinícius Júnior é uma homenagem singela a esse grande cidadão brasileiro, que se tornou um orgulho mundial. Ele transcende o futebol, representando a luta por um planeta mais justo e livre do racismo. Viva Vini Jr., um símbolo de excelência e resistência, o melhor do mundo!
Brito e Sila – Cartunista
Nossa coluna na Papangu