Herege

“Sem a música, a vida seria um erro”, disse o filósofo e poeta prussiano Nietzsche. Claro, não precisa ser filósofo, poeta ou literato para entender que sem música a vida é sem graça, amarga como fel ou insólita como o Salar de Uyuni boliviano. Enfim, a vida sem música é insossa, sem sal.

Devo confessar que tenho uma inveja danada daqueles que são fãs de carteirinha de determinado estilo ou mesmo de um artista e só o escuta, sabem tudo a respeito do ídolo, desde o primeiro sucesso ao último. Gosto de dizer que sou eclético – tenho um amigo que diz que sou herege -, pois, esse negócio não existe, ou se gosta de rock ou forró, os dois juntos é blasfêmia.

Sou pecador confessadamente destinado ao purgatório. Em se tratando de música misturo chiclete com banana, chá com pinga, buchada com Chocolate, talvez seja culpa da minha enorme ignorância e falta de educação musical que meu ouvido é moco de “sintonia fina”. Mas, para mim, tanto faz estar ouvindo Luiz Gonzaga ou Ray Charles ouço-os com a mesma emoção.

Aliás, música eu não só escuto, ouço e a vejo também, sim, vejo sim. Ora, meu amigo se você ouve uma música e não ver, fique certo que eis surdo, mudo e cego. Música tem que emocionar e projetar imagens aos meus olhos e disso não abro mão.

Como ouvir Triste Partida e não vê-la? Como Ouvir Belchior em Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum e não enxergar aquele miserável o qual a morte lhe permite apenas mais um gole? Ou ouvir Imagine e não exibir pessoas pelo mundo inteiro em gestos de paz?

Estava ouvindo o “caba” da Paraíba, Flávio Leandro cantando Oferendar, uma bela crônica, quando ele diz do orgulho da filha ter gravado e a convida para o palco, aí meus “zóios’ minaram como cacimba em beira de rio, quando ela exclamou: “Oh painho!”, pois é assim que minhas filhas às vezes se dirigem a mim, em gesto de agradecimento ou carinho.

Na minha playlist – que frescura -, na minha lista tem Barrabas dividindo palco com Luiz Gonzaga e Tim Maia, Impacto Cinco com Pink Floyd, Trepidants com White Búfalo, Secos & Molhados com Billy Preston, a 40ª Sinfonia com Três Meninas do Brasil, ou ainda Trio Mossoró com Elino Julião e Zeca Baleiro…

Da velhice meu maior medo é ficar broxa dos ouvidos.

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